É preciso ensinar análise sintática?

Muitos estudantes questionam seus professores de língua portuguesa a respeito da relevância de aprender análise sintática. Considerando seu uso prático, a resposta para esse questionamento do título é “sim” e “não”. A verdadeira pergunta deve ser “como ensinar análise sintática?”.

A análise sintática deve ser entendida como mais do que uma base para analisar sentenças soltas. Trata-se de um guia para a orientação da construção de um bom texto, seja escrito ou falado. Continue lendo para entender mais sobre o tema. 

Afinal, o que é análise sintática?

Em linhas gerais, a sintaxe consiste na parte de estudo da gramática focada nas funções e na colocação de termos nas orações. Nessa área também estão incluídos estudos de regência, concordância e pontuação. No entanto, o ensino/aprendizado de sintaxe não pode ser resumido apenas a esses tópicos.

O entendimento de que sintaxe se resume apenas a isso leva a decorar nomenclaturas como predicado, predicativo, sujeito, complemento nominal, verbos (transitivos e intransitivos), adjunto adverbial, adjunto adnominal, entre outros. Quando um professor pergunta aos seus alunos quais são os termos da oração, recebe uma lista extensa de respostas decoradas.

A análise sintática nada mais é do que a descrição dos elementos utilizados para fazer a combinação de palavras em um período com o objetivo de dar sentido ao texto. No entanto, quando esse tema é ensinado com base em decorar inúmeros termos, gera nos estudantes verdadeira aversão.

Esse contexto leva muitos estudantes a dizerem que não sabem nada de Português. Como se fosse possível ser falante nato de uma língua sem saber nada dela.

Análise Sintática: base para compreender a língua escrita

A análise sintática é uma importante base para o entendimento e o desempenho da língua escrita. Tendo tamanha importância e aplicabilidade na realidade, por que ensinar esse conteúdo com base em decorebas?

Ao decorar termos o aluno retém de forma rasa um conhecimento que não saberá usar com propriedade. Há uma distância gigantesca entre as pesquisas acadêmicas mais recentes e a realidade do ensino. 

Já se compreende que a análise sintática é um meio para o estudo da língua e não um fim. Ensinar a sintaxe é fundamental para preparar o estudante para compreender a língua portuguesa. No entanto, mais uma vez levantamos a questão de que precisamos discutir como esse ensino está sendo feito. Decorar não é a resposta.

Decorar termos não é eficaz!

Obviamente, é importante que os estudantes saibam o que é sujeito, predicado, entre outros termos. É válido e interessante a consulta de uma gramática no âmbito escolar. Dicionários e ferramentas de busca online também têm seu papel durante os estudos. 

No entanto, todos esses recursos não cumprem seu papel se estiverem sendo usados meramente para decorar termos. Decorar algo não significa que o estudante entendeu o conteúdo. Compreender a análise sintática é muito mais relevante do que decorar.

Análise Sintática: como fazer essa prática?

Para entender porque estamos defendendo que apenas decorar não é aprender, daremos um exemplo prático. Imagine que durante uma aula de língua portuguesa o professor pede a um aluno (que decorou as classificações) para analisar as duas frases abaixo somente com base na pontuação:

“Minha prima que mora em Belo Horizonte veio ao Rio.”

“Minha prima, que mora em Belo Horizonte, veio ao Rio.”

Esse estudante vai lembrar-se de períodos simples, períodos compostos, subordinações e coordenações. Para analisar essas frases o aluno precisará usar seus conhecimentos sobre períodos e suas orações. Precisará se lembrar de como interferem na pontuação do texto, ou seja, deverá realizar a análise sintática. 

Se o aluno em questão realmente compreendeu os conceitos dos vários elementos que formam a oração, ele identificará que temos duas frases e não uma frase pontuada de duas formas diferentes.

As duas sentenças constituem dois períodos compostos por subordinação. A primeira tem uma oração subordinada adjetiva restritiva. Já a segunda tem uma oração adjetiva explicativa. 

Geralmente, os estudantes que não compreenderam de verdade os conceitos respondem que a segunda é uma oração explicativa por causa da vírgula. Isso faz com que fique claro que não entenderam de verdade a estrutura sintática do período. 

A oração é explicativa porque a vírgula aparece, ou seja, é o contrário. Em suma, podemos dizer que ter ou não vírgula determina quantas primas você tem morando em Belo Horizonte.

Qual é a diferença entre as frases do exemplo?

Como o próprio nome indica, a oração adjetiva restritiva tem como objetivo particularizar o significado do termo antecedente que está na oração principal. É indispensável para o sentido do período. Na primeira frase, uma “prima” é individualizada em relação a outras que o sujeito pode ter. Somente essa prima mora em Belo Horizonte. 

Em uma oração adjetiva explicativa alguma informação é adicionada a respeito de um termo que está presente em outra oração. Na segunda frase existe somente uma “prima” e a informação pode ser removida sem que haja perda no sentido do texto. O segredo está em compreender o conteúdo.

Análise sintática não precisa ser um conteúdo complexo, basta mudar o ponto de vista do ensino.

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